domingo, 17 de janeiro de 2010

Três Horas.

Você estava apenas meio enganado quando supôs que eu perderia o sono e me poria a escrever. Depois do primeiro telefonema não tive forças suficientes para sair da cama. Qualquer que fosse o motivo seria pequeno perto do meu cansaço, que, mais que físico, é hoje sentimental.
Vou explicar porque nomeei assim, sentimental: acontece que quando você se enjoa de amar e ao mesmo tempo se enjoa de não amar, verdadeiramente o enjoo é a você próprio. É o caso. Ando enjoada de mim. Não consigo ser mais tudo aquilo de passional e ao mesmo tempo hoje já faz parte de mim, querendo ou não, a poesia de maneira intrínseca.
Vou voltar então para o seu meio engano. Acontece que após dar um sossega leão no cansaço físico, ainda havia o amor, ainda sentia cada batida do meu coração, ainda falava com você de maneira ofegante. Talvez você tenha notado, mas me faltou o ar enquanto lia Clarisse.
Após o segundo telefonema tudo se acalmou, ficou o frio na barriga, o desejo do beijo não dado, mas eu já podia respirar e não estava tão cansada.
Acendi a luz do abajour vermelho. Você devia estar aqui para ver meu quarto todo vermelho, meu corpo suado numa camisola leve, uma aura de calor que estava dentro de mim e emanou para o ambiente.
Nesse segundo momento precisei escrever. Achei que tiraria esse nó da gargante, mas ainda não passou. Tampouco o frio na barriga.
Não sei como é que você mexe assim comigo, não sei como você tem toda essa força. Você nunca fez esforço para isso. Tudo culpa dos meus próprios sonhos, das minhas ilusões, das minhas letras, da minha luz vermelha, da minha mania de ouvir Dido, da minha necessidade de amor e poesia.

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