domingo, 17 de janeiro de 2010

Quatro Horas.

Estava sufocada de mim. Precisava respirar uma lufada de ar fresco, precisava te exalar, te exaurir. Eu não conseguiria dormir com você assim tão dentro.
Levantei da cama e tirei a roupa com raiva, joguei no chão do banheiro e tomei um banho gelado. Um banho gelado daqueles de renovar, um banho gelado em todas as suas formas. Gélido de um breu de quatro da madrugada de uma noite sem lua e com poucas estrelas no céu.
Sai e, ainda ensopada, enrolada na roalha, desci as escadas, desliguei o alarme, corri até a cozinha e me embebedei de água fria.
Aos poucos o ar foi voltando, aos poucos você foi se pondo. Subi e me enfiei numa lingerie bonita e sentei para escrever.
Parei antes do fim da primeira linha. Ainda sufocava. Abri a janela e senti todos os poros do meu corpo se relaxando ao inalar o ar da noite.
Enquanto o ar ia penetrando no meu corpo, você ia saindo. Pouco a pouco fui recuperando olfato, visão e a letra parou de embolar. Senti tanto meu corpo que veio a vontade de um espirro. Parecia que era você, finalmente pedindo para sair.
Eu poderia até permitir que por um momento você me falatsse, mas jamais deixaria que fosse embora de vez. Prendi aquele espirro como uma mãe prende um filho em seus braços, ou um avaro segura uma moeda em sua mão.
Permitira que me tirassem qualquer coisas, exceto a eterna chance de sonhar. Poderia suportar até o sufocamento, mas nunca a liberdade absoluta.
Sou a eterna detenta da paixão e da poesia, dependente maior da existência do ideal irreal. Sou a mais sonhadora entre as mulheres e a mais feliz de todas elas.

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