terça-feira, 8 de dezembro de 2009

E.T.

Após sair da prova, carregava comigo o livro de contos da Clarisse, que continuo, vagarosamente, lendo. Como eu precisava esperar o jogo do Flamengo acabar para que o meu pai viesse me buscar, decidi sentar numa lanchonete para tomar um sorvete e sorver um pouco da rainha das letras. Assim fiz.
Como todas as pessoas ali sentadas estavam assistindo jogo, fazendo algazarra e gritando, lançei mão do melhor dos artifícios modernos, o amigo iPod.
Combinação perfeita. Livro, música, sorvete e alienação. Ou pelo menos uma alienação velada e forçada que trazia calma e paz.
Até o Flamengo fazer o segundo gol tudo ia muito bem. Um e outro grito me tiravam, vez ou outra, a atenção. No mais, parecia que Clarisse me sugava de tal forma que não havia quem me desorientasse. Ou talvez Clarisse estivesse me desorientando, e não havia quem orientasse. Tanto faz.
Acontece que o Flamengo fez o bendito gol. E putz! Que susto! Dei um salto tão grande na cadeira que todas as pessoas voltaram a atenção para mim. Até o Flamengo ficou em segundo plano.
Foi quando finalmente perceberam que alguém ali, no meio de todo aquele contexto, estava simplesmente ignorando "O jogo do século" e lendo, absorvida num mundo paralelo que a eles parecia deveras irreal.
As caretas de desaprovação me fizeram achar graça. Uma graça gostosa e sem culpa. Ri. Não ri porque achava aquela massa bestializada idiota, ri porque eles me achavam idiota. Mas ri sinceramente, de forma incontida. Ri parecendo que estava rindo de mim mesma.
Voltei à Clarisse.

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