terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Entrando no armário.




Se a vida oferece uma nova chance de escrever uma história, porque não tentar?

André era daqueles homens solitários. Do tipo clássico de solidão. Pouco amigos, vive só, liga para a mãe uma vez a cada quinze dias, por obrigação e não por saudade. Cada noite se deita com uma mulher. Nenhuma delas é capaz de satisfazê-lo. Ana, Clara, Julia, Maria, Tati.
Ana acreditou que pudesse mudá-lo de alguma forma, investiu seu tempo, seu amor, dispendeu saúde, dinheiro, férias. Nada mudou. Continuaram juntos, noites adentro, sem carinho, sem cumplicidade. Só havia tesão, e ela não se perdoava por permitir.
Clara foi a paixão tórrida. Durou apenas alguns dias. Naqueles, ele se sentiu vivo. Depois tudo foi morno, depois tudo foi frio, depois ele parou de ligar, depois parou até mesmo de atender. Parou aos poucos de desejar, e quando viu parou de querer. Nunca mais se falaram. No peito uma pequena nesga de aflição, velada e intrínseca.
Julia era uma prima distante. Desde muito jovens saíam juntos, bebiam garrafas de vinho, acabavam num hotel qualquer. Falavam besteiras, riam até o dia clarear. Se despediam como bons amigos. Cada um continuava sua vida, como se nada tivesse mudado, até o próximo encontro casual.
Maria era sexo. Ela gostava, ele gostava. Se entendiam na cama. Melhor que com qualquer outra.
Tati foi a única com quem ele pensou em se casar. Não porque a amasse, ou porque houvesse muita paixão. Mas é que dona Adália gostava dela, e, se havia algo que ele prezava, era a paz entre a mãe, e qualquer que fosse a mulher ao lado dele. - Nessas horas, melhor não contrariar - Pensava.

Acordou depois da hora do almoço. Era um sábado de outubro e o tempo fresco. Tinha fome, mas um café bastava. Pensou em algum delivery, mas não ia saciar. Não era fome de comida. Era fome de vida.
Pegou o carro, meio que por impulso, e se jogou nas ruas calmas da cidade. Olhando os prédio do centro, cheios de seus vidro reflexivos, e de sua vida apagada, sentiu-se calmo. Não era o único, naquele mar de gente vazia, a caminhar só.
Entrou numa galeria de arte, só pra ver se ali se encontrava. Enquanto deslizava sobre o chão de madeira, deixava um rastro de desamor e pequenez.

2 comentários:

Carlos Eduardo disse...

Oi, Luisa... Mais um texto que me cativou. Leitura gostosa! Mas tudo que é bom dura pouco, e quando vi, já tinha terminado de ler. haha

Quanto a repetir a dose que você comentou no meu blog, pode ter certeza que iremos! :)

Beijos!

Polly disse...

Adorei o texto Piri!
Bjuuu