quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apagão

Talvez eu devesse apenas fechar o livro e dormir. Mas toda a calmaria me inquieta. Ouvir o coachar dos sapos, os sons da cidade dormindo e o barulho do vento no fogo da vela me deixam deveras poética e imaginativa.
Embora hoje ele não tenha deixado o telefone ligado e eu não tenha conseguido ouvir sua doce voz rouca, eu sei que quando decidir dormir será seu corpo que vou sentir junto ao meu.
Em meus sonhos irei beijá-lo e ele retribuirá com mais amor que jamais pensou nutrir por outrem. Um dia, verdadeiramente, ele o fará.
A cidade silenciosa ouve apenas os latidos dos cães inquietos e o vento dançante que entra pelas janelas.
As outras moças, menos inquietas e mais despreocupadas, dormem o sono dos justos e sonham com seus amados. Os rapazes sós pensam coisas de rapazes que eu jamais serei capaz de alcançar ou entender.
E o meu rapaz está no escuro, daquela cidade grande, e muito me preocupa.
Hoje vem o caos, amanhã ele se instaura. Nem mesmo Saramago compreendeu tão bem o pânico generalizado que vai se instaurar por aqui.
Eu, de minha parte, não me importo. Vou seguir lendo Clarisse, ainda que a luz de velas, e fazendo poesia. Queria apenas notícias do meu belo rapaz...

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