Enquanto eu, sentada ao computador, escrevia o que deveria ser esse artigo, começou a chover em Itaperuna com há muito não se via.
Era uma chuva grossa, forte, clara, cheia de raios, trovões e energia. Tinha tudo para fazer a luz cair, queimar os eletrônicos e dar uma tremenda dor de cabeça.
Decidi mudar o foco. Desliguei o computador, todas as luzes e tomadas da casa. Sentei-me na varanda com algumas canetas e um pouco de papel.
Pensei em pegar o iPod, mas achei que para entrar no clima era melhor evitar qualquer interferência externa, e ter um encontro meu com a chuva.
O som dos trovões era tão forte que me fazia estremecer, o frio da chuva que ricocheteava no chão da varanda e molhava minha pele era vivo, úmido e tão real que me tirava o ar a cada uma daquelas gotas borbulhantes.
Tudo me encantava e inebriava. A luz estonteante dos relâmpagos, a água barrenta que vinha descendo do alto do moro e passava pela frente da minha casa, e até mesmo a mosca errante que ficou parada à parede por mais de cinco minutos esperando a chuva passar.
O bucolismo dessa cena me fez pensar em como ando cada vez mais entregue aos adiantos tecnológicos, perdendo tardes à frente do computador, ou como já não durmo, dirijo ou tomo banho se não houver música, e como tenho preguiça de escrever quando posso usar o gravador de voz.
Isso me tomou um pouco do ar, pensei em como tudo me emburrece, cega, tira o prazer de simplesmente olhar a chuva, sentir suas gotas, usar um bloco de papel e caneta... Foi então que comecei a refletir e ver como minha geração e as próximas a ela já não sabem aproveitar esses pequenos prazeres.
Tentei então me lembrar do meu último banho de chuva. Mesmo fazendo esforço não consegui me lembrar de quanto tempo tem isso. Senti uma súbita vontade de por os pés na lama, deixar a água cair lentamente molhando cada centímetro da minha alma, molhar o cabelo, ensopar a roupa. Mas puxa! Aquilo daria muito trabalho... Secar tudo aquilo depois, ou toda a função para por biquíni, pegar toalha e não fazer bagunça acabou tirando a graça da brincadeira que nem havia começado.
Hoje já não se toma banho de chuva. É muito trabalhoso! Mais fácil é ficar sentada, em frente ao computador, estudando, trabalhando, escrevendo, ou vendo a vida passar.
Ainda bem que hoje choveu. Ainda bem que desliguei o computador. Não tomei banho de chuva, mas senti a minha alma lavada, só por essa troca de energia entre mim e a chuva.
Como poucas coisas nessa vida combinam tanto quando chuva, chá e literatura, vou aproveitar que não devo ligar o computador nem tão cedo, fazer um chá e me aninhar de pijama na minha cama para ler um pouco. É melhor correr antes que a chuva acabe e tome toda a poesia desse momento.
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