segunda-feira, 27 de agosto de 2018

a coisa de lidar com a saudade (e com a perda)

prometi para eduarda que eu ia escrever sobre isso. ai eu escrevi, primeiro a caneta mesmo, e não saiu nada. ai vim aqui pro insônia e fiquei - óbvio - brigando pra lembrar como faz para logar. dez anos de blog e dez anos de não saber o acesso. mais minha cara, impossível.
aliás, falando em blog e as tecnologias, quando é que a blogspot vai fazer um aplicativo para eu vomitar pensamentos de qualquer lugar do mundo? coisa mais constrangedora, pleno 2018 e o blogspot não se adianta nas tecnologias. valha-me nossa senhora.


enfim. era sobre perda e não sobre blogspot né. sobre perda e sobre saudade.

hoje a mamãe compartilhou um video de rosal, e eu lembrei que o festival está chegando. e com isso vieram um infinito de outras coisas lindas doces saudades doloridas importantes até mim.
primeiro eu pensei o quanto gostaria de estar lá. compartilhei o vídeo no meu facebook e escrevi que se pudesse escolher duas datas para estar sempre no brasil, seriam o carnaval em floripa e o festival em rosal.

ai fui pensar melhor. não sei como seria para mim sobreviver a um festival de rosal sem o papai. mas sabe o que? se a minha mãe sobreviveu, eu tenho obrigação de suportar, pelo menos, a falta dele lá.

na verdade já está passando da hora de começar a suportar a falta dele. já se passou um ano e meio e de tudo o que mais me doi é o sentimento de completa negação. eu não acredito, não aceito, não suporto pensar na perda dele como algo real.

(seria mais fácil continuar digitando sem chorar tanto e o nariz escorrer. mas é impossível. eu to falando sobre o meu pai. sobre o não estar, o não sentir, o não viver.)

quando eu penso em rosal eu viajo no tempo, 7 anos. aquela primeira vez. nós 4, 4 garrafas de vinho e não sei quanto mais em whisky, a casa do lalado, um frio de congelar as pontas dos dedos, o cachecol dando dez voltas no pescoço e os cabelos enbolados num ninho de mafagafo. e ai penso no papai, lembro de ficar no colo dele porque não tinha cadeira, e lembro dele acordando no dia seguinte de banho tomado. o cheiro do papai de banho tomado, os cabelos fortes e cheios, tão pretos, úmidos. o café da manhã, as delicias, as manias dele de cozinha, os hábitos.

quanto eu penso na perda - e na saudade que eu sinto que é maior que tudo que há nessa vida - eu travo. eu não consigo ir além e não sei o que dizer sobre a minha relação com a perda.

eu sei o que eu sinto quanto a saudade. eu sei dizer que a saudade é algo impossível de medir. e eu sei toda a culpa que eu carrego por não ter estado com a mamãe todo esse tempo.

as decisões mais difíceis na vida são as decisões de estar longe de quem a gente ama. eu não tenho a menor dúvida disso. todo o resto é fácil de lidar... mas isso, é impossível explicar.

e ai vem a coisa da perda. dos traumas. eu ter vivido dois traumas de perda muito forte, num espaço de tempo de 6 meses, me deixou muito medrosa. e não é natural que se viva assim. não é bom, saudável. é preciso superar o trauma, afastar a culpa, e engolir o choro.

eu acabei de olhar pra uma foto minha na argentina comendo crepe de palito e eu penso o quanto daquela luisa mudou pra chegar a luisa que temos hoje. ali existia uma pessoa 100% otimista. e hoje eu tento, eu juro, buscar aquela luz em mim - a gratidão, o otimismo, o olhar de amor pro mundo - mas nem sempre eu consigo. e eu, quando nao consigo, sei que faço isso de maneira a me auto sabotar. eduarda disse que é muito claro: eu tenho tanto medo de perder as coisas que é mais fácil não ter e assim nao correr riscos.

mas pera ai. eu não sou um pacote de emoções sem razão. eu sou uma mistura disso tudo e eu preciso aprender a lidar com o meu medo de perder de um jeito natural. encarar isso de frente. me respeitar. e entender que a vida é mesmo randômica e que não vai ser todo hurricane season que vai ter uma tragédia anunciada. vai que nem hurricane tem?!

queria só ficar em casa hoje, encasulada. sozinha com meus pensamentos, minhas letras, meu beck, e se possível com o colo da minha mãe, mesmo que por telefone.

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