A criatura acorda nua, suada e sorri. Pega o telefone, atende rápido, volta a dormir... A criatura ainda está molhada. Levanta para ligar o aparelho. Fica de pé. De pé sente seu próprio peso e sente seu próprio seio e seu próprio beijo.
A criatura é mulher demais nessa manhã, e quer música francesa, filme francês, e quer viajar. Mas pode ser até mesmo para petrópolis, pode ser até mesmo para um sítio em ubá, pode ser qualquer lugar.
A mulher toca os seios que estão pequenos, sempre pequenos, e a impressão sempre a mesma. E o corpo está todo magro, sem barriga e com umas dobras tão gostosas de tocar que se ama. E a criatura/mulher se adora.
E já é manhã alta. E já pode parar de viver para só viver sem parar. Já pode começar o dia, o sorriso amplo, o completo da vida.
E quer filmes, quer ser Amelie, quer ser Jacks, quer ser cada uma delas um pouco e de cada vez. Quer ser Marteuil, Nola, Cristina...
Quer virar cinema, quer fazer cinema, e quer que a vida seja filme. Filme com trilha sonora francesa...
Ah, pobre coitada e pobre de espírito, que conhece nada de música francesa... Vai procurar estudar mais, e falar em estudar, vai ler Aristóteles, porque precisa para ontem... E tem tanto a ler, e tanto a ver, e a vida corre tanto, que às vezes não dá tempo, e é preciso focar.
E parar com as brincadeiras bobas, e parar de ver a vida correr, e parar de ver o tempo voar para voar frente ao tempo.