a fumaça do baseado preso entre os meus dedos estava só dançando de forma livre até eu começar a digitar. o vai e vem dos dedos no teclado fazem o vai e vem da fumaça virar um tremendo descompasso.
mas talvez fumar agora nem seja a melhor das opções. ontem eu não comi. hoje eu ainda não comi. mas eu não tenho a menor vontade de comer. a menor vontade de me nutrir. hoje a minha única vontade ainda é sumir.
eu me sinto só; e agora eu me vejo só. eu me pus só.
e, mais que isso, eu não quis sair conversando, ligando, falando, dialogando. eu quis tomar o tempo pra mim. primeiro pra minha cabeça respirar, pro meu cérebro se encher de ar de maneira tal que eu não sufoque mais; depois, pro meu corpo respirar. meu corpo está exausto. meu corpo é um monte de não sentir. como se eu tivesse fisicamente anestesiada e mentalmente acelerada, ao mesmo tempo que oca.
os sentimentos não se organizam na minha cabeça; os pensamentos passam dando voos rasantes, mas antes mesmo que eu possa fruir, interpretar, pensar, ele sai. algo novo me ocorre e não consigo mais lembrar do fio da meada - e isso até poderia ser o baseado. mas eu passei a última semana toda sem baseado.
agora não mais - ontem eu finalmente peguei maconha. me recuso a passar por isso tudo sem poder pelo menos ficar numb de tempos em tempos.
***
eu disse que ia tirar meu coração dele. e eu realmente disse. e eu acho que se eu seguir adiante, forte, com as minhas escolhas, eu consigo. eu sobrevivo.
mas eu quero? ontem a noite foi muito dificil estar perto dele e não saber o que eu estava sentindo. eu me sentia oca, vazia. como se eu fosse incapaz de formular um pensamento, ou juntar meia duzia de palavras.
mas quando eu cheguei em casa eu peguei o telefone umas cem vezes querendo falar com ele. umas seiscentas vezes.
só que eu não tinha nada pra falar. eu não tenho nada pra falar. eu ainda me sinto vazia. eu ainda não sei como traduzir essa tristeza profunda que eu estou sentindo.
***
é tão estranho esse sentimento que eu não tenho vontade de falar; não tenho vontade de ter ninguém perto. nem de ligar pra ninguém, nem de responder ninguém, nem de ver ninguém. nem de fazer nada.
desde ontem eu estou nesse sofá num eterno dorme acorda chapa vê tv.
não que eu pretenda permanecer assim... na realidade eu estava planejando acordar, colocar uma música, abrir as cortinas e arrumar a casa toda. arrumar tudo, dar comida pro gato, ver se eu passo na feira e compro umas coisinhas frescas.
mas quem eu to enganando? eu lá tenho força pra isso? meu corpo todo parece que chegou de um ano na guerra. cada emoção que meu corpo sente é estranha e dolorida. tudo parece que uma agulha fina profunda vai entrando em mim e aplicando uma dor mínima mas lancinante. específica. como se fosse uma acupuntura. mas de dor. sei lá.
escrever o parágrafo da casa limpa me deu um mínimo de fé. escrever o da dor aumentou a percepção da dor. nós somos realmente muito auto sugestivos/sugeridos.
agora não sei o que fazer. o sol está começando a nascer la fora. talvez eu precise dormir um pouco mais.